o ciclo das passadas

cada passo adiante a vida engrandece a caminhada. a lua alumia a estrada com um sorriso largo no rosto. as estrelas cantam no ritmo das passadas. [passadas largas, passadas apressadas]. os sonhos movimentam as pernas. e os pés seguem caminho. sempre adiante. olhos adiante. cabeça adiante. coração adiante. às vezes o descanso faz –se forçoso. escolhe-se então a árvore mais frondosa. cheia de flores e frutos. aquela que baila ao som da canção das estrelas. deita-se debaixo dela. debruça-se em um de seus galhos. o chão as flores coloridas enfeitam. então, fecha-se os olhos. respira o aroma da estrada. o cansaço fere. mas, é preciso retomar à caminhada. o olhar lá no futuro, invade o ar úmido da madrugada. pronto! recomeçam-se novas e outras passadas. à luz da lua e ao som das estrelas a caminhada da vida continua. os sonhos ainda não dão- se por satisfeitos e aceleram as pernas que apertam os passos. quanto mais rápida for a caminhada mais breve os olhos avistarão o fim dessa estrada. e mais breve os sonhos pularão da alma ao fato. pra então dar início à outras maiores passadas. em outras mais longas e tortuosas estradas ...

distância

Quando de minha vida pareço distante paro e respiro por um instante. E nesse mesmo instante, o sonho que demora em meu peito irrompe fazendo escorrer assim cada parte sua por dentro da minha alma. Ajeito minha cabeça no travesseiro. Fecho suavemente os olhos. Vou levando comigo cada pedaço do sonho rompido que parecia querer escapar por entre estas minhas janelas já cerradas. Não sei para onde vou. Chego. Não sei onde estou.Caminho pelas ruas de uma cidade que não conheço, de um país que nunca vi e nunca estive. O dia já está quase virando noite. Não sinto calor, nem frio. Mas, o chão está molhado. Vejo pessoas diferentes. De costumes, idéias e pensamentos diferentes. Lugar bom. Aconchegante. Aparentemente real. Talvez seja. Sinto- me feliz. Em casa. Mesmo estando claramente tão longe de casa. Do aqui e do agora. Do presente que nada possui. Então, sem querer lembro-me dele. E a ele acabo voltando. Ao mesmo presente que está sempre a me emprestar a sensação trivial do início. Respiro novamente. Quando de mim a minha vida parece distante recomeço tudo outra vez ...

lembranças

a vida passa, é verdade. como um filme. mas, sem controle remoto. sem possibilidades de volta ou avanço. restam - nos as lembranças: o cheiro da infância perdida ou eternizada. os medos. as brincadeiras pueris. as preocupações inconsistentes. os dias infinitos, coloridos. dias doces. dias incertos por vir e todos os sonhos por realizar. o tempo vai passando e ficam as memórias da meninice gravadas dentro do peito. brincam em nossos olhos. provocam o suspiro da saudade. o riso de lado dos acontecimentos registrados e por agora e sempre imortalizados.

Tu Tens um Medo:

Acabar.

Não vês que acabas todo o dia.

Que morres no amor.

Na tristeza.

Na dúvida.

No desejo.

Que te renovas todo dia.

No amor.

Na tristeza

Na dúvida.

No desejo.

Que és sempre outro.

Que és sempre o mesmo.

Que morrerás por idades imensas.

Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.

Não ames como os homens amam.

Não ames com amor.

Ama sem amor.

Ama sem querer.

Ama sem sentir.

Ama como se fosses outro.

Como se fosses amar.

Sem esperar.

Tão separado do que ama, em ti,

Que não te inquiete

Se o amor leva à felicidade,

Se leva à morte,

Se leva a algum destino.

Se te leva.

E se vai, ele mesmo...

Não faças de ti

Um sonho a realizar.

Vai.

Sem caminho marcado.

Tu és o de todos os caminhos.

Sê apenas uma presença.

Invisível presença silenciosa.

Todas as coisas esperam a luz,

Sem dizerem que a esperam.

Sem saberem que existe.

Todas as coisas esperarão por ti,

Sem te falarem.

Sem lhes falares.

Sê o que renuncia

Altamente:

Sem tristeza da tua renúncia!

Sem orgulho da tua renúncia!

Abre as tuas mãos sobre o infinito.

E não deixes ficar de ti

Nem esse último gesto!

O que tu viste amargo,

Doloroso,

Difícil,

O que tu viste inútil

Foi o que viram os teus olhos

Humanos,

Esquecidos...

Enganados...

No momento da tua renúncia

Estende sobre a vida

Os teus olhos

E tu verás o que vias:

Mas tu verás melhor...

...E tudo que era efêmero

se desfez.

E ficaste só tu,

que é eterno.

Cecília Meireles

por ora

[amar é querer encontrar o nosso amor todos os dias nas

palavras de outros. é tentar traduzí-lo através de minhas

palavras. é saber que todos os meus sonhos cabem dentro

do seu abraço ...]

amor ( pra variar )

fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor. eu sei exactamente o que é o amor. o amor é saber que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer. o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos. o amor é ter medo e querer morrer.

José Luís Peixoto

in A criança em ruínas

um dia puro

Que nenhuma estrela queime o teu perfil

Que nenhum deus se lembre do teu nome

Que nem o vento passe por onde tu passas.

Para ti eu criarei um dia puro

Livre como o vento e repetido

Como o florir das ondas ordenadas

Sophia de Mello Breyner Andersen

Plano

Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor que se despeja no copo da vida, até meio, como se o pudéssemos beber de um trago. No fundo, como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na boca. Pergunto onde está a transparência do vidro, a pureza do líquido inicial, a energia de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa da alma suja de restos, palavras espalhadas num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez, esperando que o tempo encha o copo até cima, para que o possa erguer à luz do teu corpo e veja, através dele, o teu rosto inteiro.

Nuno Júdice

palavras que demoram em mim

ontem quis dizer-te palavras avisadas. palavras exatas. palavras ternas. palavras infindáveis. ontem quis dizer –te que amo-te. amo-te como a areia ama o mar em dia quente. como os pássaros amam o sol em dia de inverno. amo –te e nada em mundo faria negar o desejo de o dizer - te. mesmo quando já tudo mais parece perdido. mesmo quando já o amor parece ter ido embora. amo-te. como a lua ama as estrelas em noite estrelada. como as borboletas amam as flores em dia de primavera amo-te. como quem ama um amor de vida inteira.

amor, pois então

porque o coração vive

dizendo não à razão ...

Princípios

Podíamos saber um pouco mais

da morte. Mas não seria isso que nos

faria ter vontade de morrer mais

depressa.

Podíamos saber um pouco mais da vida.

Talvez não precisássemos de viver

tanto, quando só o que é preciso é saber

que temos de viver.

Podíamos saber um pouco mais do amor. Mas

não seria isso que nos faria deixar de amar ao

saber exatamente o que é o amor, ou amar mais

ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada sabemos

do amor.

Nuno Júdice

ah, coração ...

porque basta que eu feche os olhos e ouça para fugir de

mim mesma a flutuar nas ondas dessa canção ... como

quem quisesse ir embora e deixar a dor chorar sozinha

dentro desse meu coração mais sem cuidado ...

Stan Getz, Insensatez

letra aqui

carpe diem

Confias no incerto amanhã? Entregas

às sombras do acaso a resposta inadiável?

Aceitas que a diurna inquietação da alma

substitua o riso claro de um corpo

que te exige o prazer? Fogem-te, por entre os dedos,

os instantes; e nos lábios dessa que amaste

morre um fim de frase, deixando a dúvida

definitiva. Um nome inútil persegue a tua memória,

para que o roubes ao sono dos sentidos. Porém,

nenhum rosto lhe dá a forma que desejarias;

e abraças a própria figura do vazio. Então,

por que esperas para sair ao encontro da vida,

do sopro quente da primavera, das margens

visíveis do humano? "Não", dizes, "nada me obrigará

à renúncia de mim próprio --- nem esse olhar

que me oferece o leito profundo da sua imagem!"

Louco, ignora que o destino, por vezes,

se confunde com a brevidade do verso.

Nuno Júdice

tempo

da janela d´minha alma vejo o correr das horas ... tempo é tempo, amor. andas equecido de tal fato? e nada nessa vida, lembro-lhe agora, passa tão depressa quanto ele mesmo

a sea of dreams

hoje me apetece subir a escada que dá para o mundo, abrir os braços como que em um abraço e gritar para acordar os meus sonhos. todos aqueles sonhos: os mais distantes do real e, por assim sê-los, os mais estonteantes, os mais magníficos, os mais lindos e os mais profundos e verdadeiros de serem sonhados. todos aqueles que precisam morrer um pouco a cada dia para viver mais e intensamente, bem aqui, em cada parte que pulsa e mora dentro de mim ...

a vida ...

A vida tem a cor que você pinta.

Mário Bonatti

(...) II

e Victor Hugo acaba de oferecer -me (também) resposta ao questionamento que fiz dias atrás:

(...) Morrer de amor é viver dele.

pormenores ...

[porque vi essa foto e cá estou eu a pensar no que gosto]

porque gosto do cheiro da terra quando beijada pela chuva fina de um fim de tarde quente ou início de uma noite fria. de contemplar o céu azul de doer os olhos e o coração de tanta beleza debaixo de um solzinho aconchegante de inverno. olhar para as nuvens e decifrar desenhos nelas. de sentir a sensação boa dos pássaros que estão a voar bem ali em cima da minha cabecinha sonhadora que balança por horas na rede amarela do meu quintal bem pequeno. porque eu gosto de sair da rotina, ir pra uma praia qualquer, ou mesmo me imaginar nela quando o fim de ano chega e a vontade de ir também, para ouvir o barulho do mar, sentir o cheiro da maresia, ficar a mercê do sol e da lua (porque eu amo demais uma praia). gosto de olhar as janelas das casas de cidadezinhas que visito e também as das de beira de estrada e ficar horas a imaginar a vida de cada um que ali demora, suas manias, o que fazem em seus dias, em suas tardes, em suas noites, entrar em seus sonhos, descobrir suas idéias, suas opções e opiniões, seus medos, suas histórias (ora! ser jornalista implica possuir uma certa curiosidade, tremenda, diga-se de passagem, rsrsrs). gosto de ler uma poesia linda, ou uma história doce de um livro bom e notar meus olhos cheios de lágrimas e o coração batendo mais forte ao sentir que aquelas palavras poderiam ter saído de dentro da minha história. gosto de ver filmes românticos e de me colocar no lugar de seus personagens, os mais sonhadores e felizes no final. gosto de ouvir uma boa música e cerrar os olhos, balançar o corpo e dançar dentro dela. gosto de ficar por conta do atoa na beirada de um mato, ouvindo o som magistral da natureza tocado pelos grilos, pelos pássaros, pelas corujas, pela nascente do rio, pelo bailar das árvores. como se não bastasse, gosto de subir a minha rua em dias nublados e ver bem lá no fundo, atrás dos telhados, aquelas nuvens cinzas e carregadas e de sentir o vento gelado acarinhando o cabelo, balançando as folhas das árvores e de soltar um suspiro de nostalgia depois disso e lembrar que, no final daquele dia, o friozinho vai ser mandado logo embora pelo quentinho do abraço bem apertado de quem eu amo. e porque, sim!! eu amo torta de limão, todos os sorvetes do mundo, bombom ouro - branco e me matar de tanto mascar chicletes de frutas. porque viver cada detalhe da vida e gostar disso é muito bom. mesmo a duras penas. mesmo que a espera nos canse e que todos os nossos sonhos não nos alcance, viver os pormenores dessa vida, ainda assim, será sempre gratificante ...

beaucoup d'amour

tudo o que eu mais quero hoje, meu amor, somente você pode me dar ...

Bach, suite nº 1 pour violoncelle I. Prelude

la meilleure chanson ...

porque tem música que a gente vive escolhendo para chamar de nossa. mas, tem AQUELA que, dia trivial e certeiro, acaba escolhendo a gente ...

Joseph Arthur, A Smile that Explodes

da felicidade ...

Quantas vezes a gente, em busca da ventura, procede tal e qual o avozinho infeliz: em vão, por toda parte, os óculos procura tendo - os na ponta do nariz !

Mário Quintana

paix ...

tem certos momentos na vida da gente em que a única coisa que nos apetece é um pouquinho mais de paz

pousando suavemente em nossos ombros ...

às vezes as coisas dentro de nós

O que nos chama para dentro de nós mesmos é uma vaga de luz, um pavio, uma sombra incerta. Qualquer coisa que nos muda a escala do olhar e nos torna piedosos, como quem já tem fé. Nós que tivemos a vagarosa alegria repartida pelo movimento, pela forma, pelo nome, voltamos ao zero irradiante, ao ver o que foi grande, o que foi pequeno, aliás o que não tem tamanho, mas está agora engrandecido dentro do novo olhar.

Fiama Hasse Pais Brandão

Beethoven, Ave Maria (porque tem música que, assim como algumas coisas dentro de nós, toca bem lá no fundo da nossa alma)

o início do fim ...

há a morte que nos entristece em demasia...

mas há a vida, que tão logo começa, nos enche de

alegria, amor e esperança ...

( para os Fás que agora entram em uma nova etapa da vida.

e que esta seja linda e repleta de felicidade. porque eles

realmente merecem ... )

(...)

Como deve ser morrer de amores?

Alguém, algum dia, já voltou pra contar?

Dois amantes felizes não têm fim nem morte,

nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,

são eternos como é a natureza.

Pablo Neruda

purple wishes ...

meus desejos têm se manifestado tão intensos, tão

desmedidos, tão excessivos, tão imeeeeensos, tão mais

tãããooo roxos dentro de mim ultimamente que, por

hoje, faltam- me forças para tirá-los daqui de dentro e

descrevê-los em palavras, apenas ...

unf ...

Enya, Only If

tradução aqui

painted on my heart ...

porque tem música que a gente

nunca esquece ...

The Cult,

Painted On My Heart

tradução aqui

e a noite vai ser fria outra vez...

Massive Attack & Terry Callier, Live With Me

tradução aqui

glory box...

porque tem música que não sai da mente e quando reparamos bem, ela tem tudo a ver com o que agora demora no coração ...

Portishead, Glory Box

tradução aqui