sábado, 29 de setembro de 2007

[ às vezes, há a chuva]
e logo pela manhã o barulho na janela anuncia o novo dia .
nessa nossa vida contínua, há a chuva que vez ou outra
cai, pra lavar - nos a alma ferida ...

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Um dia. Um encontro. Quem sabe ...
Frágil é a vida que corre por dentre nossas veias. E leva consigo os dias que correm. Dias inigualáveis. Únicos em si mesmos. Irreversíveis. A cada nascer do sol, um novo dia por vir. Um dia incerto. Indecifrável. Irresoluto. Imprevisível. Dia que passa. Corre. Voa. Dia que pode ser o primeiro. Mais um de nossos dias. Menos um. Ou o último ...

[ a kiss and goes in peace ]

[ minhas palavras vieram ao meu encontro. e, hoje, particularmente hoje, combinam a fragilidade da vida, o tempo que urge,
uma morte, tristeza profunda e muita saudade que ficam ]

terça-feira, 25 de setembro de 2007

por onde andam as minhas palavras ?
quanto às minhas palavras: as perdi. e não consigo encontrá-las. talvez estejam atrapalhadas dentro de mim. embaraçadas no labirinto amplo e complexo que eu mesma [ME] desenhei. Mas, que, por ora, não sou, nem eu mesma, capaz de lembrar como tracejadas linhas as conduzirão à saída. pobres palavras. pobre de mim. que seja bem breve, pois, este nosso desencontro...

[ mas, sinto. e pra mim, por ora, isso não é tudo
e não me basta. mas, me acalma ]
Refúgio
É(s) como o mar,
Que me acalma,
Lindo,
Que me inspira,
No qual tenho vontade de mergulhar
Até me perder.
De me deixar envolver completamente
Por ele...
Carlos Veríssimo
Para poder morrer
Para poder morrer
Guardo insultos e agulhas
Entre as sedas do luto.
Para poder morrer
Desarmo as armadilhas
Me estendo entre as paredes
Derruídas
Para poder morrer
Visto as cambraias
E apascento os olhos
Para novas vidas
Para poder morrer apetecida
Me cubro de promessas
Da memória. Porque assim é preciso
Para que tu vivas.
Hilda Hilst

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Uns
Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.
Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.
Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos.
Colhe o dia, porque és ele.
Ricardo Reis
(Fernando Pessoa)
[ nas palavras de Outros,
a tradução do que demora em mim ]

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Ser, parecer
Entre o desejo de ser
e o receio de parecer
o tormento da hora cindida
Na desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos
Mia Couto

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

era uma vez ...
era uma vez uma menina que só pensava no amor.
aí, o tempo passou. o céu fechou. a nuvem atravessou.
a noite chegou. a lua sorriu. o sol nasceu. o céu azulou.
o passarinho aninhou. o outono entrou. o inverno findou.
e, hoje, só por hoje, a menina trancou o amor pra fora
da mente e saiu pra comprar um vestido verde.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

[porque sempre há um tempo pra (re)começar]
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
Fernando Pessoa
From My Heart And Soul

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver
só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe
a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
Fernando Pessoa
(Odes de Ricardo Reis - Segue o Teu Destino)
Beatles, Let It Be
Para S. que viverá agora certa de que tudo passa.
e que tudo melhora à medida em que vai passando ...

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

moradas privativas
Como já dizia Mário Quintana, O amor é quando a gente mora um no outro. Tão linda combinação de palavras me fez lembrar que morar um no outro predispõe pagar aluguéis caros demais, quando em vez. E que, portanto, deve – se sempre cuidar com esmero dessas moradas [para que valha sempre à pena pagar o preço que se paga]. Então, deve-se fazer uma faxina daquelas hora ou outra. E deixar os cantos bem vazios da poeira que entra pelas frestas das janelas em dias secos de inverno como estes que, por ora, demoram a passar. Tem de abrir bem as janelas em dias quentes para fazer o ar circular por entre os cômodos grandes e aconchegantes. E cerrá-las com propriedade para que a brisa gelada de fins de tarde do mês que ainda está por vir não venha umedecer os 'esqueletos' das nossas moradas [ou mesmo gelar nossos pés enquanto dormimos]. Tão doces palavras de autor tão sublime não me deixam esquecer também dos jardins destas nossas casas. De cuidar delicadamente de seus pomares. De aparar as arvoretas que começam a salpicar todo o chão de pétalas coloridas nessa época do ano; de podar e cortar os espinhos das roseiras que custam a fazer brotar suas rosas vermelhas, enormes e magníficas trazidas da Holanda; de regar SEMPRE todas as flores das mais variadas tonalidades e espécies que enfeitam em demasia as pequenas sacadas a morar debaixo das vidraças. A pequena frase me lembra de não esquecer nunca que aluguéis tão caros assim pedem também em troca zelos peculiares com a estrutura destas moradas [para que todos os dias dentro delas sejam tranqüilos e seguros]. E que viver um no outro demanda tempo, carinho, respeito, dedicação, amizade, apego, paixão ... E que nós, os inquilinos desses APs privativos não podemos jamais, e em tempo ou hipótese alguma, esquecer, um dia se quer, de aplicá-los nestas nossas GRANDIOSAS, luminosas, ÚNICAS e aconchegantes casas. Porque é assim que tem que ser: cuidar um do outro sem nunca esquecer de cuidar [primeiro] de nós mesmos.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

O céu
Assoam-se-me à alma, quem
como eu traz desfraldado o coração
sabe o que querem dizer estas palavras.
A pele serve de céu ao coração.
Luís Miguel Nava

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

estrelas

Encosta a cabeça
a estas nuvens
acariciadoras
em seguida
dorme
deixa a tua melancolia opaca
de planeta
bailar na praça do sonho.
Deixa as estrelas desta noite
serem só
o antigo
cântico dos bosques
e os teus versos
os rios
que atrás ficaram a brilhar.
João Martim

terça-feira, 4 de setembro de 2007

desafios da blogosfera
Luci, desafio aceito !
cá está a frase retirada do primeiro livro à vista :
"Declaro que tive medo de apaixonar-me por todas essas generosas e santas criaturas, em cujos olhos ardentes, feiticeiros sorrisos, requebros de corpo, e estudadas posições, descobri somente a ambição inocentíssima de agradar, o impulso da sensibilidade a mais terna, o amor do próximo ou dos próximos o mais profundo, e a humildade cristã da santa moça submissa e pronta a ser escrava de novos senhores".
A luneta mágica, Joaquim Manuel de Macedo
e cá estão as regras do desafio:
1. Pegar no livro mais próximo
2. Abri-lo na página 161
3. Procurar a 5ª frase completa
4. Colocar a frase no blogue
5. Não escolher a melhor frase nem o melhor livro (usar o mais próximo)
6. Passar o desafio a cinco pessoas
e cá estão as sortudas para quem o repasso:
1.
4. Vanessa

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Pequenas coisas
Falar do trigo e não dizer
o joio. Percorrer em vôo raso os campos
sem pousar
os pés no chão. Abrir
um fruto e sentir no ar o cheiro
a alfazema. Pequenas coisas,
dirás, que nada
significam perante esta outra, maior:
dizer o indizível. Ou esta:
entrar sem bússola
na floresta e não perder
o rumo. Ou essa outra, maior
que todas e cujo
nome por precaução
omites.Que é preciso,
às vezes,
não acordar o silêncio.
Albano Martins

sábado, 1 de setembro de 2007

wait! e a ver navios ficará

levou muito menos tempo do que eu imaginava para aprender uma lição das boas. daquelas que se leva para sempre nas malas da vida, não sabes? quando muito se espera uma coisa e ela acaba não acontecendo, maior a dor de não a ter vivenciado, ou possuído, ou sentido, sei lá [já agora tanto faz]. por isso, mudei aquele velho ditado [que já nem me lembro mais como era] para quem espera DEMAIS NEM sempre alcança. mas, com certeza, aprende. sim!! aprende que apenas se sentar e ver a vida passar por esperar demais, demais e demais certa cousa é atitude demasiada burra. esperar menos é a SOLUÇÃO. e com certeza, se ela não acontece, a dor é três vezes menor nesse coração por ora calejado. e, se acontece, a surpresa e a alegria acabam não competindo dentro do peito. assim faz-se melhor. creio eu.