terça-feira, 31 de julho de 2007

Crepuscular

A incerteza cai
com a tarde no limite da praia.
Um pássaro apanhou-a,
como se fosse um peixe,
e sobrevoa as dunas
levando-a no bico. O
seu desenho é nítido, sem
as sombras da dúvida ou
as manchas indecisas da
angústia. Termina com a
interrogação, os traços do fim,
o recorte branco de ondas
na maré baixa. Subo a estrofe
até apanhar esse pássaro:
com o verso, prendo-o à frase,
para que as suas asas deixem
de bater e o bico se abra. Então,
a incerteza cai-me na página, e
arrasta-se pelo poema, até
me escorrer pelos dedos para
dentro da própria alma.
Nuno Júdice

segunda-feira, 30 de julho de 2007

amanhã vai ser um outro dia...

o
que fazer em um dia cinzento como esse?
perguntou um dos passarinhos do bando
aos seus demais companheiros
ah
pensar que as carregadas nuvens de hoje
podem não ser as mesmas de amanhã ...
respondeu o mais ligeiro antes mesmo que
os demais, que ainda procuravam dentro de si
mesmos uma resposta, formulassem outra
pergunta ainda mais complexa ...

triste, tristinho...

my world it came to be sad and

the sky of everybody

gained a star...

para Bisa que agora virou uma estrelinha

sábado, 28 de julho de 2007

quero paz...

acordou em mim a vontade de ficar submersa n' água ouvindo o estrondoso silêncio que nela habita. só eu e o vazio dos meus pensamentos. a mergulhar nas profundezas dessa calma...

sexta-feira, 27 de julho de 2007

tudo permanece se regado a cada pôr- do- sol

felicidade...

bota o riso na cara, menina e vai ser feliz !!
pega na rabiola da vida, ô menina e saia
com ela a voar [e voar e voar] por aí...

quinta-feira, 26 de julho de 2007

versos soltos...

"A noite acendeu as estrelas porque tinha medo
da própria escuridão."

"... O luar é a luz do sol que está sonhando..."

"A maior dor do vento é não ser colorido."

[ ...e hoje, aqui no casulo, o dia é de Mário Quintana]

quem sabe um dia?

[Quem Sabe um Dia]
Quem Sabe um Dia
Quem sabe um dia
Quem sabe um seremos
Quem sabe um viveremos
Quem sabe um morreremos!
Quem é que
Quem é macho
Quem é fêmea
Quem é humano, apenas!
Sabe amar
Sabe de mim e de si
Sabe de nós
Sabe ser um!
Um dia
Um mês
Um ano
Um(a) vida!
Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois
Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois
Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois
Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois

[...sim!!! Mário Quintana!!...]

sempre...

Às vezes tudo se ilumina de uma intensa irrealidade
E é como se agora este pobre, este único,
este efêmero instante do mundo
Estivesse pintado numa tela,
Sempre...

[... e batamos asinhas para Mário Quintana!! ...]

das utopias...

Se as coisas são inatingíveis...ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!
[... nunca é demais vaguear nas palavras de Mário Quintana...]

quarta-feira, 25 de julho de 2007

falta de inspiração...

parafraseando Alice Ruiz (a gaveta da alegria já está cheia de ficar vazia) cá estou eu a pensar com meu umbigo e, nossa!! as caixinhas onde estou a conservar a inspiração estão por hora cheias, cheinhas de ficarem demasiadamente vazias. afff... algo diretamente ligado aos meus dias, que estão (também) tão repletos do nada e que, por isso, custam a passar?

probably...

terça-feira, 24 de julho de 2007

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Uma coisa é um grande discurso,
outra coisa um grande amor
Sto. Agostinho

dançar...

porque tem música que a gente nem cansa de dançar

em qualquer lugar, balançando o corpo, de olhos

bem fechados e de mente bem vazia...

Hooverphonic, Mad Abaut You

Um conto vazio

Pensava a mil por hora e por isso andava sempre cansada...
Achava ter a vida uma beleza exaustiva e alinhar os pensamentos dava-lhe muito trabalho.
Costumava costurá-los como uma colcha de retalhos, mas não suportava cobrir-se com ela.
Foi quando, em um dia estranhamente verde, um gato entrou por sua janela, e, ao puxar um fio, desfez toda a colcha que estava sobre a cômoda, emaranhou-se em linhas e desapareceu no horizonte.
E ela então, obtendo alguns instantes de pausa ao perder os pensamentos, encontrou-se em sua essência e sorriu sinceramente.

Anna Carolina Paegle

quinta-feira, 19 de julho de 2007

cores verdadeiras

Cyndi Lauper, True Colors
tradução maravilhosa aqui

mas há a vida...

mas há a vida que é para ser intensamente vivida,
há o amor.
que tem que ser vivido até a última gota.
sem nenhum medo. Não mata.
Clarice Lispector

delicadeza...

[a palavra despertou-me pela manhã

e cá estou eu a procurar o seu significado dentro de mim]

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain

ninguém é completamente feliz sem alguém para amar...

terça-feira, 17 de julho de 2007

urgentemente

é urgente o amor.
é urgente um barco no mar.
é urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
é urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

cai o silêncio nos ombros
e a luz impura, até doer.
é urgente o amor,
é urgente permanecer.
Eugénio de Andrade

na palma da mão...

Ser pequeno ou GRANDE na vida, não importa.
O que importa é ser feliz...
Achamos a GRANDEZA em pequenos e simples feitos.
E encontramos a felicidade em simples e pequenas coisas.
...e tudo independe do tamanho...
Porque, se GRANDE ou pequeno,
a felicidade e a GRANDEZA
de cada um, cabem na palma de
sua mão.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

do amor IV

Esta vista
de mar,
solitariamente,
dói- me.
Apenas
dois
mares,
dois sóis,
duas luas
me dariam
riso
e bálsamo.
arte na
natureza
pede
o amor em dois olhares.

Fiama Hasse Pais Brandão

porque tudo que é muito bom, dura pouco demais ...

É preciso sentir os instantes que, como o vento, passam. Assim, depois de intensamente sentidos, processados e reprocessados pela mente, voarão ao coração. E por lá permanecerão. Infindáveis. Como alguns dias felizes nunca os são quando deveriam ser...

sábado, 14 de julho de 2007

angústia...

Tortura do pensar! Triste lamento!
Quem nos dera calar a tua voz!
Quem nos dera cá dentro, muito a sós,
Estrangular a hidra num momento!
E não se quer pensar!...e o pensamento
Sempre a morder-nos bem, dentro de nós...
Querer apagar no céu -- ó sonho atroz! --
O brilho duma estrela, com o vento!...
E não se apaga, não...nada se apaga!
Vem sempre rastejando como a vaga...
Vem sempre perguntando: "O que te resta?..."
Ah! não ser mais que o vago, o infinito!
Ser pedaço de gelo, ser granito,
Ser rugido de tigre na floresta!
Florbela Espanca

sexta-feira, 13 de julho de 2007

canção do futuro ...

Por instantes adivinhou o futuro. Olhou para a porta dos fundos e se dispôs a enxergar o que alí não mais passava: os medos...as incertezas...os desatinos. Fez de conta que não sabia e continuou olhando. Pensou nos dias de chuva e de muito frio, nas noites sem estrelas e desenluaradas. Cerrou os olhos, apertou a mão contra o peito e sentiu a música. Ouviu a canção do que viria. Chorou. Derramou lágrimas de alegria. Estava feliz. Os dias dali em diante seriam azulados e durante as noites, borboletas dançariam sobre as estrelas.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

uma confidência na tarde...

lendo hoje, deitada na rede, lembrei-me desse verso de Mário Rui de Oliveira jogado entre as minhas papeladas na gaveta:

A calma de uma árvore que reluz, nas suas folhas íntimas, o langor dos gatos como príncipes, um livro lido ao som de uma confidência, na tarde. Os minutos de uma espera são, por vezes, a vida.

...no meu caso, troca-se os gatos preguiçosos como príncipes por duas cadelinhas, uma beeem preguiçosa e outra beeem vigorosa (daquelas de dar gosto), mas ambas como princesas a me acompanharem em boas tardes de leitura, sob uma arvoreta (da qual não reconheço a natureza) e céu de Brigadeiro, a esperar e esperar e esperar por novidades EXTRAORDINARIAMENTE boas .
Sim! os minutos de uma espera são, por vezes, a vida...

sonhos...

Solto um suspiro e no vento ele se dissipa...

Os dias passam lentamente

e as noites têm sido frias...

E o vento, carregado de novos sonhos

voa ao pé da montanha...

Vai subindo lentamente, leve,

opulento e úmido

Chega no topo onde acerta encontro com

a nuvem solitária que lá habita e

sopra-lhe devagarinho aos ouvidos,

envolvendo-a num abraço longo...

Os sonhos se reordenam e

se misturam

E o meu suspiro vira

urso graúdo que mora no alto da montanha

quarta-feira, 11 de julho de 2007

hora que passa...

(...)
Deus! Como é triste a hora quando morre...
O instante que foge, voa, e passa...
Fiozinho de água triste...
a vida corre...
Florbela Espanca
em Hora que passa

terça-feira, 10 de julho de 2007

simples assim, não?

Uma porta se fecha... Outra, obviamente, tende a se abrir. Mas, nada é tão simples como piegas...Basta que a chave se encaixe e que a maçaneta gire... E a porta, muito maior e bem mais elaborada, afasta-se de suas ombreiras... Daí põe-se a entrar você, todos os sonhos e todas as ambições que te seguiram até a beira dela...

segunda-feira, 9 de julho de 2007

a bela acordada...

Era uma vez uma mulher que tão depressa era feia era bonita, as pessoas diziam-lhe: - Eu amo-te. E iam com ela para a cama e para a mesa. Quando era feia, as mesmas pessoas diziam-lhe: - Não gosto de ti. E atiravam-lhe com caroços de azeitona à cabeça. A mulher pediu a Deus: - Faz-me bonita ou feia de uma vez por todas e para sempre. Então Deus fê-la feia. A mulher chorou muito porque estava sempre a apanhar com caroços de azeitona e a ouvir coisas feias. Só os animais gostavam sempre dela, tanto quando era bonita como quando era feia como agora que era sempre feia. Mas o amor dos animais não lhe chegava. Por isso deitou-se a um poço. No poço, estava um peixe que comeu a mulher de um trago só, sem a mastigar. Logo a seguir, passou pelo poço o criado do rei, que pescou o peixe. Na cozinha do palácio, as criadas, a arranjarem o peixe, descobriram a mulher dentro do peixe. Como o peixe comeu a mulher mal a mulher se matou e o criado pescou o peixe mal o peixe comeu a mulher e as criadas abriram o peixe mal o peixe que foi pescado pelo criado, a mulher não morreu e o peixe morreu. As criadas e o rei eram muito bonitos. E a mulher ali era tão feia que não era feia. Por isso, quando as criadas foram chamar o rei e o rei entrou na cozinha e viu a mulher, o rei apaixonou-se pela mulher. - Será uma sereia ? – perguntaram em coro as criadas ao rei. - Não, não é uma sereia porque tem duas pernas, muito tortas, uma mais curta do que a outra – respondeu o rei às criadas. E o rei convidou a mulher para jantar. Ao jantar, o rei e a mulher comeram o peixe. O rei disse à mulher quando as criadas se foram embora: - Eu amo-te. Quando o rei disse isto, sorriu à mulher e atirou-lhe com uma azeitona inteira à cabeça. A mulher apanhou a azeitona e comeu-a. Mas, antes de comer a azeitona, a mulher disse ao rei: - Eu amo-te. Depois comeu a azeitona. E casaram-se logo a seguir no tapete de Arraiolos da casa de jantar.
Adília Lopes em A Bela Acordada

é...a vida é assim! rsrs

tudo é questão de ponto de vista...

vontade de ser feliz...

Hoje, confesso, acordei com vontade de ser feliz. Amarrei, até, no pulso o amor-perfeito que foi secando no meu peito e retomei a velha máxima: não deixar que qualquer angústia atinja o coração. Um castelo de areia, é tudo quanto quero para acostar o meu barco de papel.
Aproxima os olhos da vertigem e estremece com a luz espessa, que brilha nos teus ombros. No céu do teu país, as estrelas podem ser barcos, se quiseres sulcar os mares do coração em desordem.
Graça Pires

domingo, 8 de julho de 2007

Afundei-me na banheira e descobri que as lágrimas
não se misturam com a água quente perfumada
com sais de banho... a espuma fica por cima e as
lágrimas caem como pedras em charcos de água.
A água quente a correr na banheira não me aquece.
Se o meu coração for já uma pedra vou ao fundo
e sei que não me ouvirás chorar por ti.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

le petit prince...

o meu pequeno príncipe voltou!! e está a encher os meus olhos e o coração de amor...
Espalhei meus sonhos aos seus pés. Caminhe devagar, pois você estará pisando neles...
Yeats

quinta-feira, 5 de julho de 2007

amar, e mais amar...

É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar,
e mais amar, depois de ter amado...
Guimarães Rosa

quarta-feira, 4 de julho de 2007

perplexidades...

Por vezes somos desconfiados demais,
desinteressados demais, frios demais,
incertos demais...
Outras tantas vezes nos entregamos
por demais,consideramos por demais e
confiamos por outro tanto maior ainda.
Entre feita e mais uma, a única certeza que
possuímos com tantas oscilações é que,
por quase completas vezes, sofremos mais do
que deveríamos e amamos mais do que
alcança amar esse nosso lúgubre,
irresoluto e louco coração.

blue moon...

e tem música que a gente não cansa de escutar...
...e muito menos de oferecê-la para a lua.
(aiai...Billie Holiday adorada!!)

Blue Moon / Billie Holiday

Blue moon, you saw me standing alone

LUA AZUL, VOCÊ ME VIU NA MAIOR SOLIDÃO

Without a dream in my heart

SEM UM SONHO NO CORAÇÃO

Without a love of my own

SEM UM AMOR PRA SER A MINHA PAIXÃO

Blue moon, you know just what I was there for

LUA AZUL, VOCÊ SABE BEM PORQUE EU ESTAVA ALI

You heard me saying a prayer for

VOCÊ ME OUVIU PEDINDO AOS CÉUS

Someone I really do care for

POR ALGUÉM POR QUEM EU SENTISSE ALGO

And then suddenly appeared before me

E DO NADA, APARECEU NA MINHA FRENTE

The only one my arms could ever hold

A ÚNICA QUE MEUS BRAÇOS PODERIAM QUERER ABRAÇAR

I heard somebody whisper please adore me

EU OUVI ALGUÉM SUSSURRAR ´POR FAVOR, ME AME`

But when I looked that moon had turned to gold

MAS QUANDO PROCUREI SÓ VI QUE A LUA AZUL TINHA FICADO DOURADA

Blue moon, now I'm no longer alone

LUA AZUL, AGORA NÃO ESTOU MAIS SOZINHO

Without a dream in my heart

SEM UM SONHO NO CORAÇÃO

Without a love of my own

SEM UM AMOR PRA SER A MINHA PAIXÃO

Without a love of my own

SEM UM AMOR PRA SER A MINHA PAIXÃO

Blue moon

LUA AZUL

terça-feira, 3 de julho de 2007

Quero apenas ser como o vento ...
Que voa pelo mundo sem destino
e sem promessas...

segunda-feira, 2 de julho de 2007

meus pés têm arriscado alguns passos...
mesmo porque, a vida ainda é dança em meus sonhos.
Je veux plonger dans l´océan du ciel...
Au milieu des poissons, qui ont des ailes...
Pif paf...abracadabra!
Je t´emmène avec moi.
quero mergulhar no oceano do céu...
onde os peixes têm asas.
Pif paf...abacadabra!
Levarei-o comigo.